quinta-feira, 16 de julho de 2015

Passivo: como, quanto e quando diminuí-lo (II).

Por José Albuquerque

Mesmo prometendo não fazer desta segunda parte do texto uma aula de contabilidade, bastando recorrer ao bom senso dos Leitores, há uma pequena “lei” da qual nem os “totós” podem escapar ...

O Activo é igual à soma do Passivo com os Capitais Próprios (ou Situação Líquida)
ACTIVO = PASSIVO + CP (ou SL)
 ... razão pela qual eu prefiro que olhem para um Balanço como “um mapa que mostra as origens e as aplicações” do dinheiro da Empresa em causa: o Activo (1º termo da equação) mostra-nos onde é que os fundos ($) estão aplicados/investidos (terrenos,edifícios, equipamentos, a Marca, Atletas, clientes aos quais concedemos crédito, bancos, “caixa”, etc.), enquanto do “outro lado” da igualdade aparecem as origens desses fundos, que podem ser “alheias” (PASSIVO, com Bancos, Fornecedores, etc.) e “próprias” (a Situação Líquida, formada pelo Capital Social, as Reservas acumuladas a partir de Lucros e o Resultado do Exercício).

Tendo este conceito compreendido, torna-se fácil entender que quando sucessivos prejuízos anuais acumulam um valor superior ao do Capital Social da Empresa, ela passa a ter Capitais Próprios “negativos”, passando todos os seus activos a estar “financiados” por terceiros (Bancos, Fornecedores, etc.) e pressupondo uma situação de “falência técnica” (a menos que “a contabilidade” esteja a subavaliar os activos da Empresa, como acontece de facto).
Tal como se entende que, quando uma Empresa é rentável e acumula resultados anuais positivos, melhora a “relação (ou rácio, ou quociente) entre o Activo e o Passivo”, uma situação em que parece normal que a Empresa possa reduzir o seu Passivo.

Pronto! Chega! Pelo menos por hoje, já chega de contabilidade, ahahah.

Se queremos reduzir o peso do Passivo e a “factura de juros” que uma parte dele implica ...
(posta de lado que foi qualquer alternativa de Reestruturação Financeira)

Nada como garantir que temos exercícios económicos lucrativos, obviamente!
E, por favor, não se confundam a pensar em “receitas” e “despesas”, porque esse caminho de raciocínio só vos vai confundir completamente. O raciocínio correto é: para termos exercícios rentáveis, temos de conter os Custos abaixo dos Proveitos.

Ora como esses dois conceitos (Custos e Proveitos) não entram directamente no Nosso Balanço (“entram” indirectamente porque a sua diferença – o Resultado do Exercício, vai adicionar-se aos Capitais Próprios), vamos deixá-los para mais tarde e, por agora, continuemos a olhar para o Nosso Balanço.

Se continuamos todos de acordo (em reduzir o Passivo oneroso e obrigar-Nos a resultados económicos positivos), olhemos, então, para como vai evoluir o Nosso Balanço ao longo dos anos (ou como serão as futuras “fotografias” do Grupo Benfica): crescendo os Nossos Capitais Próprios, das três uma ...
1 – ou o Ativo também cresce e estamos a aplicar esses lucros anuais em investimento (um investimento brutal);
2 – ou o Ativo se mantém (o que também implica um investimento igual ao volume das amortizações) e o Passivo já se reduz pelo mesmo valor dos “Lucros” desse ano; ou, finalmente,
3 – o Ativo decresce (por um valor inferior ao das amortizações) e o Passivo diminui por um valor igual à soma da redução do Ativo com o Lucro desse exercício.

A quarta hipótese, aquela que corresponderia a um “downsizing”, seria vermos o Nosso Activo a diminuir mais do que pelas simples amortizações contabilisticas (o que implicaria uma espécie de “venda de garagem”).

Eu não vos quero inundar com os números dos Nossos Balanços dos 7 trimestres mais recentes (quem quiser, basta ir confirmar aos “R&C”), mas garanto que o que se tem verificado é uma evolução entre as alternativas 2 e 3, ou seja: com exercícios anuais lucrativos, um Activo a decrescer menos do que o valor das amortizações (que andam em cerca de 11M€ por trimestre) e um Passivo a diminuir mais depressa que o Activo.

Estamos a ir bem?
Talvez um nada depressa demais, mas, certamente, no bom caminho!

Ó Zé, porque é que tu dizes “um nada depressa demais”?
Se se recordam, quando eu pedi que trocássemos a parte da pergunta “quanto?”, por “com que velocidade”, era nisto mesmo que eu estava a pensar e com uma muito boa razão ...
E para que percebam, perfeitamente, essa que eu considero uma boa razão, vou explicar-me à letra: depressa demais porque ... a Equipa não se qualificou para os “oitavos” da Champions!

WTF ???????????????
O que é que esses “oitavos” têm a ver com o Nosso Balanço e a redução do Passivo, perguntam vocês ...
Na minha humilde opinião, tem muito (para não dizer muitíssimo)!
Tem tanto a ver que eu até escrevi um texto só para explicar as razões pelas quais considero o objetivo “oitavos da CL” o objectivo desportivo mais importante em cada época!
E se antes ele já o era (só igualável a uma final da Liga Europa), a partir desta nova época desportiva ainda mais, pela simples razão de que um tal resultado “significa” cerca de 30M€ em prémios UEFA, market pool e receitas de bilheteira.

Ou seja e na minha humilde opinião (eu, que há pelo menos 3 anos escrevo em apoio a uma estratégia de reforço dos Nossos Capitais Próprios e redução do Passivo oneroso), a velocidade deste processo deve ser função de uma parte dos resultados desportivos – a parte que tem a ver com as provas da UEFA!

Nem, sequer, admito a hipótese de ver a Equipa não se qualificar directamente para a CL, desastre face ao qual imediatamente eu diria que, nesse exercício económico, não poderia haver redução do Passivo!
Na primeira das duas alternativas (a anterior não o é) – presença na fase de grupos, com ou sem passagem à Euroliga, creio que visar um resultado económico superior a essas eventuais receitas da Euroliga seria absolutamente errado e só em caso de nova presença na final (cerca de 23M€ em Proveitos totais) é que o CA da Nossa SAD deve continuar o processo de redução do Passivo.
Ou seja, só assegurando uma presença regular nos “oitavos” da Champions é que podemos garantir a rentabilidade indispensável a sustentar o desejável processo de redução do Passivo oneroso do Nosso Grupo!
E se assim não fosse, a necessária compressão dos Custos poderia colocar em causa a Nossa competitividade!

E perdoem-me pelo sublinhado e pela insistência, mas acontece que não tenho a certeza de que os Nossos Dirigentes tenham a necessária consciência desta minha tese (razão pela qual já receberam este meu texto ... completo).

Ou seja e recordando o que eu já tinha defendido há umas semanas, a melhor forma de compatibilizar os Nossos objectivos económicos (rentabilidade e redução da “factura bancária”) com os desportivos, passa pela rubrica dos Proveitos relacionada com as provas da UEFA em geral e, agora mais especificamente, por uma presença regular entre as melhores 16 equipas da Champions.
E é essa a razão concreta que aqui me traz, para dizer que talvez a Nossa SAD esteja a exagerar: falhar esse objectivo fundamental uma vez, é coisa que pode acontecer, mas ... falhar duas e consecutivas, tem de constituir motivo de alarme, mesmo que a Equipa seja Bicampeã e Tricampeã!

Na terceira parte deste assunto, veremos os Nossos Proveitos e Custos (a Demonstração de Resultados), para melhor compreendermos onde é que a Nossa Gestão tem, absolutamente, de concentrar-se.

Viva o Benfica!   

(AQUI) podem ler a primeira parte do "Passivo: como, quanto e quando diminuí-lo"

9 comentários:

  1. Enorme "serviço publico" aos Benfiquistas.

    Nada a acrescentar à analise, fico a aguardar a 3a parte do raciocinio.

    Fred
    Tudo Por Ti Benfica!

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  2. Enorme "serviço publico" aos Benfiquistas.

    Nada a acrescentar à analise, fico a aguardar a 3a parte do raciocinio.

    Fred
    Tudo Por Ti Benfica

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  3. "considero o objetivo “oitavos da CL” o objectivo desportivo mais importante em cada época!"
    No momento actual do futebol português, eu não concordo.
    Vou fugir da parte econômica e entrar na parte estratégica. É fundamental para o Benfica ser campeão. Foi fundamental ser bicampeão no ano passado e ainda mais é, ser tricampeão, esta época.
    Há um sistema que tem que ser derrotado, e só o será se não conquistar campeonatos e continuar a queimar dinheiro da forma que o faz.
    O grande objectivo do Benfica para 2015/2016 é ser campeão. Pode não ganhar muito dinheiro na champions, mas estrategicamente é a única forma de secar o sistema.
    Lembro que o Benfica podia ter renegociado com o Oliveira em 2008 ou 2009. Preferiu não o fazer. Poderia nessa altura ter passado a receber entre 14 a 16 milhões de euros. E não o fez. Perdeu todos os anos uns largos milhões de euros. Mas teria alimentado o sistema. Nunca se teria tornado independente e nunca teria levado a SportTV à beira da falência.
    Essa decisão estratégica deu-nos a BTV que tanto nos orgulhamos e que é um exemplo para todo o mundo.
    A decisão que temos hoje é semelhante. O dinheiro da Champions é importante, claro que é. Mas mais importante para mim é ser campeão. Perder 10-15 milhões não é tão crítico como perder um campeonato.

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    Respostas
    1. Companheiro (custa assim tanto escolheres um nome?),

      Eu compreendo perfeitamente essa tua opção, mas é bom que tu e todos os que a partilhem, não venham, depois, exigir que a Nossa SAD reduza o seu Passivo, nem chorar a sangria dos juros.
      A opção é perfeitamente legítima, mas tem de ser coerentemente assumida, se me entendes claramente.

      Viva o Benfica!

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  4. Caro bi-campeão e enorme Benfiquista José Albuquerque,

    Permita-me que o trate assim.

    Gostaria de começar por lhe agradecer a forma clara e objectiva como apresentou a sua análise.

    Como já alguém uma vez disse “escrevi esta longa carta porque não tive tempo para a escrever mais curta” e por isso é de realçar a forma simples e a capacidade de sintese que teve para escrever este seu texto.

    Apresentou os conceitos, enquadrou-os na pratica e apresentou as devidas conclusões. Tudo sempre numa linguagem acessível ao comum dos mortais. Imagino o tempo e o trabalho que isto lhe tomou.

    ´Da minha parte mais uma vez muito obrigado, e fico a aguardar a 3ª parte do raciocínio.

    Saudações Benfiquistas,
    Paulo

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  5. Excelente amigo Albuquerque. Este totó agradece a excelência da tua escrita. Obrigado pela partilha.

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  6. Saudações Benfiquistas,espero que desta vez consiga escrever aqui,por isso,antes de mais,quero dar os parabéns aos texto que Guachos escreve,fantásticos,melhor só o SLB,se me permitem,não seria possível haver um livro sobre estas crónicas? Sem mais me despeço,um bem hajam e CARREGA BENFICA!!

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  7. Companheiros,

    Vocês ... estragam-me com esses mimos, ahahah.

    O tema não é fácil, mas eu acho-o demasiado importante para que só a minoria dos que entendem de Economia e/ou Gestão o possam "Benficar". É por isso que vou continuar a tentar (com a ajuda do GUACHOS) que mais e mais Companheiros fiquem habilitados a compreender e discutir, as decisões dos que elegemos para Nos dirigir.

    Viva o Benfica!

    P.S.: quanto a essa sugestão de passar estas coisas para um livro, eu reafirmo que todos os meus textos pertencem ao Guachos, a quem os ofereci para que deles dispusesse como melhor entender e ... isto basta.

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  8. Tardissímo mas espero ainda a tempo.
    Até eu este analfabruto economês te percebe meu caro, parabens.
    Finanças para Dummies como eu? Venham mais!
    Sei uma coisa. Estou menos ignorante. Para quem tenha predisposição trazes um minímo de esclarecimento.
    São estes minímos que paulatinamente extraiem as pessoas da obscuridade e da idolatria a lideres de ocasião.

    Um imenso obrigado.

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Se pertenceres aos adoradores do putedo e da corrupção não percas tempo...faz-te à vida malandro. Sapos e verdadeiros trauliteiros, o curral é na porta seguinte.