Temos de saber aceitar!

Mauro Xavier (a quem daqui envio um abraço de amizade), na sua crónica semanal do Record, entendeu ser a hora de mostrar o jogo lançando a sua campanha - esta é a minha convicção - tendo em vista a sua ambição, legitima ambição, rumo à presidência do SL Benfica. Começa por Roger Schmidt, o alvo mais fácil, a quem começou a tirar o tapete logo após o empate do Benfica frente ao Farense. Encostado à parede por Rodolfo Reis e, obrigado pelos resultados, a dar o dito pelo não dito, Mauro Xavier regressa em força não deixando escapar a oportunidade das derrotas frente à potência do Lumiar que fragilizaram o treinador e o Presidente do Benfica. «Não temos de aceitar», diz o futuro candidato apontando o dedo a Roger Schmidt e ao seu desportivismo - conformismo é outra coisa como já o vimos, sozinho, a fazer na defesa da sua equipa e do Benfica - de aceitar que nem sempre é possível ganhar. 

Eu quero garantir desde já a Mauro Xavier que, se um dia for Presidente do Benfica como tanto deseja, quer queira quer não queira, vai ter de aceitar os maus resultados que o treinador (um por época, Mauro Xavier?) que escolher, quer ele aceite quer não aceite, terá de enfrentar e...aceitar. E não me parece que o Mauro Presidente queira ter um Mauro candidato a Presidente nas redes sociais a exigir a cabeça do treinador ainda a época não vai a meio. Os benfiquistas - e eu sei que ele sabe que eu não sou mais mas também não sou menos do que ninguém - aceitam mal que os da casa sejam os primeiros a juntar a sua mediática voz à voz dos adversários. 

Deixando as questões políticas que genericamente concordo, como adepto interessa-me falar das contratações que o Mauro considera falhadas. Lembro-te, Mauro - e recordar-te-ei seguramente quando parte das tuas também falharem (acontece a todos os presidentes em todos os clubes do mundo) se um dia chegares a ocupar o lugar que tanto queres - que os jogadores não são contratados por uma época e que, não raramente, só na segunda é que a maioria começa a mostrar o que realmente vale. Caro Mauro: que injustiça apontar apenas António Silva e João Neves ignorando propositadamente Samuel Soares, Morato, Tomás Araújo, Tiago Gouveia e Florentino (eu sei que já cá estava mas com as malas à porta) regularmente utilizados por Schmidt. Prometes, Mauro, que os miúdos provenientes do Seixal vão ter entrada imediata no plantel para não dizer no 11 inicial? E se o treinador não aceitar? Como é que pensas obrigá-lo a aceitar? 

Mauro, daqui, no meu lugar de benfiquista anónimo, te digo: não acredito que os benfiquistas aceitem de bom grado que um candidato a Presidente - com os benfiquistas a sangrarem com as derrotas, destroçados pelas arbitragens que nos empurraram para baixo - seja o primeiro a 'escorraçar' o treinador correndo para as redes sociais (e para as parangonas) a dar os parabéns ao maior rival quando ainda nos faltam disputar 18 pontos. Deitar a toalha ao chão a 6 jornadas do fim é o exemplo que darás aos adeptos, jogadores e equipa técnica, quando fores Presidente do Benfica? Não aceitas que o Roger Schmidt aceite resultados consumados mas és o primeiro a aceitar a derrota no campeonato quando ainda nada está decidido. Quando nos propomos a candidatos já podemos aceitar?

Se o Benfica mudasse de Presidente a cada ano que não vence o campeonato daqui a 50 tinha mais 50 Presidentes e mais nenhum campeonato. E o mesmo no que diz respeito aos treinadores. Às vezes é recomendável acalmar o pito e, sobretudo, as falangetas. Em 120 anos de história o Benfica venceu “apenas” 38 campeonatos. Pelas minhas contas, 82 títulos nacionais foram parar aos rivais escapando por entre os dedos aos diferentes 50 treinadores, 34 Presidentes. E apenas dois se chamavam Roger Schmidt e Rui Costa.

Admiro a paixão genuína de Mauro Xavier pelo Benfica. Que ele saiba aceitar a opinião dos que, como ele, só querem o bem do SLB.