Champions League para que te quero...

Chegado da Luz, escrevi no meu facebook que me ia deitar de coração cheio com a exibição do Benfica e das virtudes do projecto que eu cada vez mais acredito. Muito satisfeito com a tremenda atitude da equipa, da coragem e do discernimento de Bruno Lage. E que só queria que houvesse outro jogo já de seguida para ir de imediato ao estádio aplaudi-los...também disse que olhando para o meu feed notícias, e como é hábito sempre que o Benfica não ganha, me deitaria com a certeza que a esquizofrenia não é um exclusivo dos paineleiros nem dos programas televisivos onde a palavra de ordem é amesquinhar tudo o que é do Benfica. Afinal, eles é que estão cobertos de razão...porque o Benfica não joga mesmo nada, o Bruno Lage não presta para nada, a águia vitória só voa baixinho, o presidente Vieira é um ponta de lança dos aliados do Altis e a relva do estádio da Luz está repleta de toupeiras.

Ente as dezenas de comentários - é sempre assim sempre que o Benfica não ganha - tive um de um amigo (que muito prezo) que me acusou de com "a casa a ruir" pensar que "estamos sempre a ganhar" e de ser incapaz de fazer autocrítica. Vou auto-criticar o quê se eu saí do estádio convencido que fizemos uma boa exibição? Vou gritar que ando esfomeado se eu passo os meus fins-de-semana praticamente todos de barriga cheia? Posso exigir um Benfica favorito nos jogos da Champions? Só quando perder a noção da realidade.

Eu sei que posso criticar o Benfica por não ser capaz de ganhar os jogos todos do campeonato mas recuso-me a fazer esse tipo de figuras. Também sei que posso criticar todas as opções dos treinadores mas ainda não consegui atingir que benefícios é que isso traz ao Benfica. Um inédito tetra e cinco campeonatos em seis anos pode parecer pouco aos olhos dos 'verdadeiros' verdadeiros benfiquistas mas a mim, por muito estranho que lhes possa parecer, não me merecem qualquer tipo de reparo. Basta-me olhar para o passado, e não apenas para o passado recente, para me recusar a cuspir no prato onde como. E como detesto incoerências...

Vou-me juntar aos que criticam a aposta no nosso talento do Seixal quando os vejo passar metade da vida a elogiar precisamente o contrário? Vou-me incluir no grupo dos especialistas com orgasmos múltiplos perante o projecto do Ajax, sempre que consegue alguns resultados na Europa, fazendo de conta que não existem os muitos anos em que nem no seu campeonato consegue ganhar? Bruno Lage exagerou no numero de alterações? Faço coro com os que vejo criticá-lo por jogar sempre com os mesmos onze? O Rafa já é indispensável no Benfica? Engrosso o numeroso grupo dos catedráticos que alguns meses atrás pagavam para o ver pelas costas? 

Podem dar as voltas que quiseram mas para o Benfica é melhor ganhar em Moreira de Cónegos do que vencer o Leipzig de goleada. Se eu ponho os resultados na liga do rolha à frente da Champions? Mas é que nem gasto um segundo a pensar no assunto. Ficar à frente do campeonato tem de ser sempre a prioridade do Benfica. Só assim vamos ganhando estaleca na Champions. E mais. Sempre que o ganharmos pregamos um prego no caixão do clube da fruta e colaboramos nas petéquias dos sapos! Ninguém mais do que eu suspira por grandes resultados na Champions ou ver o Benfica afirmar-se cada vez mais no panorama internacional. Mas tudo tem o seu tempo. Alvo da chacota fácil dos seus adversários, quinze anos atrás, o Benfica não tinha dinheiro para comprar papel higiénico. Haja memória, porra!

Na época passada, no Benfica-Ajax, eu saí da Luz convencido que fizéramos uma boa exibição e que só não ganhamos o jogo porque defrontáramos uma excelente equipa. No estádio, com a cabeça feita pelos especialistas da especialidade, os adeptos despediram-se dos jogadores com um coro de assobios, lençóis brancos e palavras injuriosas para o treinador por não ser capaz de ganhar a uma equipa de putos! As redes sociais, tal como agora, fervilhavam de expert's convencidos que ganhar aos holandeses era tão fácil como espetar uma goleada no Leipzig. Rui Vitória ficou com o destino traçado e o Ajax chegou às meias finais da Champions. É que nunca mais aprendem!

Ao contrário do que muitos parecem pensar o futebol nunca será, felizmente, uma ciência exacta. Não fosse assim o Liverpool tinha ganho ao Nápoles, o Manchester City não tinha perdido com Norwich e o Guardiola não estaria agora com apenas um defesa central disponível para enfrentar o Shakthar. Ao contrário dos especializados especialistas da especialidade o espanhol não consegue controlar as lesões da sua equipa e, como não passa de um simples mortal, também não consegue evitar perder uns joguinhos de vez em quando. A vantagem do espanhol, a avaliar pela forma correcta de como encara os insucessos, é não pensar que sabe tudo, aprender com os erros e aceitar que no futebol não há vitórias garantidas. E que ninguém ganha sempre ou para sempre. Um bom exemplo que talvez valha a pena seguir.

Só para terminar a prosa que já vai longa, recordo os últimos treinadores do Benfica - desde Jupp Heynckes e José Mourinho, que também saíram desacreditados da Luz - passando por Toni, Jesualdo Ferreira, Fernando Chalana, José António Camacho, Giovanni Trapattoni, Ronald Koeman, Fernando Santos,  Fernando Chalana, Quique Flores, Jorge Jesus, Rui Vitória e Bruno Lage, não houve um único capaz de, durante muito tempo, satisfazer os especialistas da especialidade, comentadores encartados, paineleiros experimentados, talibans da internet, verdadeiros benfiquistas, os eternamente insatisfeitos e demais adeptos inflamados. Dá que pensar!