Cento e vinte e seis milhões de € !

Por José Albuquerque

Agora que esta operação está confirmada, sinto que é oportuno discuti-la, não só por ela própria como, principalmente, pelo impacto que ela pode ter no Nosso futuro colectivo. E devem estar recordados que, no meu texto anterior, já eu alertava para que, a cerca de um ano da próxima AG Eleitoral, é tempo dos Benfiquistas se interessarem mais sobre o futuro do Clube e de o discutirem seriamente.

Sucede que, agora, concretizada uma operação financeira cujo valor líquido se equipara ao Capital Social da Nossa SAD, passa a ser imperdoável que os Sócios se resumam a dizer que “eu quero é que o Benfica vença e o resto não me importa”!

Já sabíamos que o exercício económico que terminou no fim do mês passado foi fortemente lucrativo e terá deixado o objectivo “Recuperação dos Capitais Próprios”, muito, muito próximo de ser ultrapassado e, agora, ficamos a rezar para que a SAD não faça mais nenhuma venda significativa de passes de Atletas, sob pena de vermos o Sr. Ministro das Finanças a ser o maior beneficiado de toda esta estória.

Sim, Companheiros: nada nem ninguém poderá impedir que o exercício económico que agora começou – 2019/2020, seja fortemente lucrativo, que, no segundo semestre de 2020, a Nossa SAD deva planear um aumento de Capital Social, uma parte do qual será concretizado por incorporação de Reservas (as chamadas “acões grávidas”) e que tenham de ser reavaliados todos os planos de investimento já aprovados, para poderem ser, eventualmente, antecipados alguns prazos de execução.

Ainda mais do que isso e porque eu acredito que, em Gestão, não há nada pior do que ficar “a meio da ponte”, parece-me que, ainda que se duvide da eficácia do modelo desportivo adotado (centrado na “Fábrica”), há que aproveitar as disponibilidades financeiras para propiciar um novo “salto qualitativo” ao actual modelo.

Apressando a ampliação do Seixal e da Escola, certamente.

Reforçando as infra estruturas dedicadas ao futebol feminino, cujo potencial de crescimento é incontestável.

Insistindo em vários outros projectos (o Hotel Benfica, o CTF em Oeiras, a rede de Lojas e Casas, Etecetera).

E, porque sonhar (ainda) não paga imposto, acelerando o conceito “Powered by Benfica”, que me parece ter sido o mais prejudicado pela infame campanha da aliança do Altis.

Como?

Estudando os contornos da operação através da qual a Red Bull abriu uma “sucursal” do Leipzig na Áustria e, caso seja positiva essa avaliação, estudando hipóteses de “compra” de uma outra SAD para o futebol num país que seja: relativamente próximo na cultura, pertencente à EU e, de preferência, à Zona Euro, que tenha uma importante comunidade lusófona e … que assegure vantagens de competitividade para alguns dos Nossos Atletas, desde a formação até à Equipa B!

Já repararam que, ainda a “Fábrica” não entrou em “velocidade de cruzeiro” e já estamos a ter problemas para colocar Atletas aos quais reconhecemos potencial (Heriberto, Chiquinho, Alfa …), que não conseguimos valorizar na Nossa Equipa de Honra?

Já pensaram em quanto gastamos para fazer as Nossas Equipas jovens participar em torneios internacionais, só para lhe proporcionar os desafios competitivos que só encontram, em Portugal, uma meia dúzia de vezes por época?

Não seria bom se, em vez de Equipas A e B em cada escalão etário, mais uma Equipa sub 23 e uma Equipa B, pudéssemos replicar todo o processo, alargando a respectiva base de recrutamento?

Propiciando mais oportunidades e um alargamento dos horizontes a todos os profissionais da chamada “Estrutura”?

No mínimo, eu sinto que deveria ser estudada esta via de crescimento/desenvolvimento do Clube, até porque seria um reforço na Nossa estratégia de internacionalização e, em caso de sucesso, seria o melhor argumento de venda do conceito “Powered by Benfica”, abrindo ao Clube novos mercados com elevado potencial e, quem sabe, permitindo ao Glorioso deixar de estar “ancorado” neste lamaçal em que transformaram o “futeluso”.

Tudo nos antípodas do que “preferem” os Taliban?

Eu estou nas tintas para o que dizem preferir os Taliban e recomendo-vos, vivamente, que considerem esta solução, ahahah.

Então e os 126 milhões de €, foram só para fazer o título?

Vocês querem, mesmo, que eu escreva sobre esta operação?

Como queiram …

Perdemos aquele que parece ser o melhor futebolista de 2000, em troca de um balúrdio de pilim. Em síntese, foi isto!

O Vieira mentiu?

A mim não, porque o que o ouvi dizer foi que só venderia o JF pelo valor da cláusula de rescisão!

Poderia ter sido evitada esta operação?

Não vejo como, sinceramente. E mesmo que tal fosse viável, seria um tremendo erro de Gestão!

(Se quiserem discutir argumentos, sugiro que abusem da caixa de comentários)

E, desde já, vos confesso que prefiro esta forma de pagamento, em alternativa à entrada imediata de 126M€ numa Nossa conta bancária!

Com esta fórmula, a Nossa SAD poderá adaptar os recebimentos futuros às suas próprias necessidades de financiamento, ou recebendo faturas nas datas propostas pelo clube comprador, ou, sempre que conveniente, recorrendo ao ”factoring” proposto, para antecipar faturas ainda não vencidas.

Simples, mais flexível e potenciando a hipótese de “poupar” uma parte dos previstos 6M€ de Custos Financeiros.

Mas, essa eventual operação de “factoring” não vai fazer aumentar o Nosso Passivo (e o Ativo)?

Claro que sim!

E os Taliban, os mérdia e toda a corja de anti?

Que se lixem e com um F maiúsculo!

O que é incontestável é que a Nossa SAD vai:

1 emitir faturas no valor total de 126M€ (não há IVA, por se tratar de uma exportação);

2 receber, de imediato, a primeira fatura, no valor de 30M€;

3 proceder ao registo contabilístico dos Custos inerentes à operação (a anulação do valor de balanço à data e as faturas relativas à comissão de 10%); e

4 calcular, pela diferença entre Proveitos e Custos, a potencial “mais valia” do negócio, um valor sobre a maior parte do qual teremos (ceteris paribus) de pagar o competente IRC.

Então a SAD não pode gastar o guito em novos atletas, daqueles “titulares incontestáveis”?

Poder até pode, desde que não coloque em risco os limites do FP Financeiro e desde que arranje solução para os Nossos jovens cujo potencial será esmagado por essas contratações!

Sinceramente, não vejo que esta operação com o JF deva colocar em causa a Nossa política desportiva, bem pelo contrário, mas imagino que, daqui a um ano, não vão faltar candidaturas populistas a agitar essa bandeira, lado a lado com a “conquista da champions”.

Importante, importante mesmo, é que esta operação possa contribuir para aumentar a ligação dos Sócios ao Clube.

Ao seu presente e, sobretudo, ao Nosso futuro colectivo.          

Viva o Benfica!