Foi épico, foi mágico. Foi Benfica!

Ontem cheguei a casa por demais cansado da lufa lufa onde estive envolvido para ajudar verdadeiros verdadeiros e especialistas da especialidade a transportar de borla ao aeroporto alguns jogadores sem categoria para se exibirem com a camisola do Benfica. Quando dei por terminada a minha missão, já lá estavam acabrunhados e prontos a partir para longe, Rafa, Grimaldo e João Mário, mas o leva leva - relembrando os 38 que, em estágio, fatalmente dariam início à quarta guerra mundial - prometia não parar. E como o Benfica, sem suplentes à altura, só consegue apresentar um onze com muitos defeitos, é verdade, mas, ainda assim, com uma certa qualidade, é de crer que até ao raiar do dia poucos tenham escapado à fúria dos eternamente descontentes. Desisti então e vim embora descansar.

Antes tinha vivido uma noite de inimagináveis sensações no melhor e mais belo estádio português! Da arruaça à excelência. Do chiqueiro à sala de opera! Da liga da farsa à Champions League! No espaço de dias o Benfica derrotou limpamente os dois clubes que muitos consideram como os maiores corruptos da Europa! Quem se lembra dos 4-4 frente ao Leverkusen de Andreas Thom, Ulf Kirsten, Bernd Schuster, Lupescu, Franco Foda, Christian Wörns & comp. sabe que, estas, são memórias que perduram toda a vida! Que fantástica demonstração de categoria! Que futebol encantador! Que regalo para os olhos esses 94 minutos de êxtase, múltiplas emoções e corações a palpitar; de felicidade que nenhum corrupto consegue comprar! E nem os dois golos da Juventus, de rajada, quando todos pensavam que estava morta e enterrada, por lhe injectar mais incerteza, lhes retiram qualquer tipo de magia! Foi épico, foi mágico. Foi Benfica! 

O momento da noite, arrepiante e que guardarei para sempre no meu coração, foi a substituição de Rafa aos 87 minutos, com o estádio em pé a aplaudir, rendido à extraordinária exibição de um jogador que só não foi do outro mundo porque o poste, um minuto antes, e alguma infelicidade um pouco mais atrás, não lhe permitiram sair do relvado na apoteose (mais que) perfeita que merecia! Na tribuna de honra, dois fulanos que têm demonstrado não ter muita, se ainda lhes restar um resquício, terão sentido que, naquela espantosa demonstração de reconhecimento ao mérito, cabia muito do desprezo que milhões de benfiquistas tributam hoje à selecção da Femacosa. 

Para trás ficara o golo inesquecível do menino António Silva que abriu o marcador - quem sabe não lhe concede o direito de entrar no lote final do Golden Boy sem ter agarrados às canelas os puristas da bola nacional - e um belo conjunto de exibições extraordinárias. Não consigo apontar alguém que não tenha estado a grande nível. Ainda assim, para além do Rafa nota 10, destaco Enzo Fernández que, depois da exibição menos conseguida najantas, se exibiu (não me lembro de o ver falhar um passe) com Florentino, João Mário e Aursnes, num patamar de excelência a comandar todo o futebol do Benfica! Aos 21 anos o argentino já é um jogador de classe mundial!

A arbitragem, a julgar pelos padrões nacionais, foi muito fraca e com clara influência no resultado. Srđan Jovanović - com ar de quem sabe de cor e salteada a cartilha do João Pinheiro - por umas quinzes vezes (há-de haver uns lances que a MDCSDQT e o foculporto vão mostrar nas próximas horas) terá perdoado a amostragem da cartolina vermelha a Alexander Bah. E ainda teve a distinta lata de apontar para a marca de grande penalidade, penalizando uma mão na bola do colombiano Cuadrado, dentro da área da Juventus! Tem sido, aliás, uma provocação inaudita, os três penaltis - dois com a Juve, um com o PSG - que os árbitros europeus têm feito ao foculporto! 

Uma nota de admiração para o discurso de António Silva - «Ó amiga eu já estou num tubarão europeu» - novel fecundador (com a licença de Rafa, Grimaldo e João Mário) dos painéis de paineleiros e dos especialistas da especialidade.

Outra nota para Juventus. Nunca é boa política subestimar (vale o mesmo para o clube da fruta) os italianos. Ontem foi o que se viu. Em Paris, frente ao PSG, tinha sido completamente trucidada (2-0) na primeira parte. Reagiu na segunda com um golo aos 54 minutos, mantendo o clube de Messi, Mbappé e Neymar em constante sobressalto até ao fim!

Termino com uma palavra de agradecimento a Roger Schmidt por ter trazido à Luz a luz que nos tem faltado nos últimos largos anos. Ontem estava tudo tão perfeito que terá provocado algum deslumbramento (infelizmente o que é bom não dura para sempre) nos adeptos e nos jogadores: demasiados toques de calcanhar a certa altura, e até no treinador que, extasiado a vê-los jogar, se esqueceu de fazer substituições até aos 80 minutos! Parabéns pela qualificação antecipada e venha de lá esse primeiro lugar que ainda é possível alcançar.