Como (não) defender o Benfica!

Só um clube como tão especial como o Benfica - numa noite de quarta-feira, frente a um adversário do 4º escalão nacional e já com a eliminatória resolvida - consegue mobilizar tanta gente! Se o termo, Taça é festa, tem razão de ser - os mais de mil adeptos do Tirsense e os 48 601 mil espectadores nas bancadas provaram-no. Depois do 11 que Bruno Lage apresentou na primeira mão, só um perfeito idiota poderia exigir que - nesta altura da época, a jogar em casa com o resultado em 5-0 - o treinador ignorasse o restante plantel mandando para a fogueira mediática o habitual 11 titular! Até o ridículo devia ter limites. 

Não tem. Chegado a casa tive curiosidade (mórbida, bem sei) de espreitar o esgoto da manhã para perceber o pintelho que se agarravam para marrar com o Benfica. Diamantino, antigo craque do Benfica, mostrava-se furioso com a primeira parte (a segunda nem tanto) que o 'irritou solenemente'. Logo o Diamantino, jogador 'raçudo', conhecido por suar sempre a camisola e dar tudo o que tinha em todos os jogos que entrava. Paulo com Catarro - «e houve alguns assobios» - aproveitou para meter gasolina na fogueira e o antigo grande jogador do Benfica não o deixou defraudado: «se houve alguns assobios ainda foram poucos», disparou embalado! Cada vez mais irritado, o antigo craque aproveitou para recordar um jogo da Taça, na Tapadinha, onde o Benfica, com o estádio completamente cheio e o seu melhor 11 venceu o Atlético por 7-0 (na verdade o resultado foi de 0-6). Disse Diamantino que o malogrado e saudoso Sven-Göran Eriksson, na palestra que deu aos jogadores, lhes disse que a única coisa que podiam fazer era irem lá para dentro e 'respeitar as pessoas'. E foi com os Trubin, Otamendi, Carreras, Kökçü, Pavlidis, Aktürkoğlu e Aursnes da altura que o resultado chegou a 0-7 (0-6 na realidade). 

O que o Diamantino se esqueceu de dizer é que nessa saudosa época de 1982/83 - onde brilhantemente conquistou o campeonato e a Taça de Portugal (na final disputada najantas venceu o clube da fruta 0-1) e foi finalista vencido da Taça UEFA - o Benfica realizou um total de 49 jogos. O capitão Otamendi já tem 63 nas pernas, Kökçü 53, Pavlidis 56, Aktürkoğlu 58, Carreras 48, Trubin e Amdouni 49, Aursnes 45 e por aí fora. Jogos particulares à parte, quando ainda faltam disputar 4 da liga da farsa, a final da Taça e, pelo menos, mais 3 do mundial de clubes, o Benfica já leva 51 jogos realizados! Mais, o Atlético 0-6 Benfica foi realizado num sábado, 11 de Dezembro, e o próximo jogo do campeonato (que ainda ia a meio) só se realizaria no Domingo dia 19, 8 dias depois. Será preciso fazer um desenho?

Como o Diamantino tão bem sabe, foi uma estupidez dessas, de meter o melhor 11 em campo num jogo a feijões (esse sim a feijões onde nada havia a ganhar) que originou a sua grave lesão dias antes da final taça dos campeões europeus. O então capitão do Benfica, que era a nossa melhor hipótese de vermos o maior clube português sagrar-se novamente campeão europeu, assistiu de muletas à final de Estugarda que o SLB, órfão da sua genialidade, inapelavelmente perdeu (nos penaltis) para o PSV. 

Não Diamantino, os 48602 espectadores (onde me incluo) que foram à Luz jamais se sentiram defraudados. E muito menos enganados. Todos sabíamos na ponta da língua, analistas e telespectadores incluídos, quais seriam os eleitos de Bruno Lage. Que Deus lhe acudisse da vossa fúria se escalasse os habituais titulares. Se assim marram com o treinador do Benfica o não lhe fariam se ignorasse o restante plantel! António Silva e Bruma internacionais portugueses, Florentino Luís titulado e titular da melhor equipa portuguesa, Samuel Dahl internacional sueco, Adrian Bajrami internacional albanês, Zeki Amdouni internacional suíço, Belotti internacional italiano campeão europeu, Arthur Cabral que, pela Florentina, foi o melhor marcador da liga conferência, Schjelderup internacional norueguês, Leandro Barreiro internacional luxemburguês, Prestianni grande promessa argentina das mais cobiçadas do mundo, Tiago Gouveia que teria lugar no melhor 11 da esmagadora maioria das equipas nacionais, Samuel Soares, André Gomes, Hugo Felix e João Veloso, internacionais portugueses nas categorias jovens, juntamente com outros que não chegaram a entrar, formam um plantel de luxo que - devidamente entrosado - é superior à esmagadora maioria dos planteis nacionais. Quem, como Bruno Lage - numa eliminatória que estava mais do que resolvida - apresenta tamanha qualidade aos 48601 espectadores está a fazer tudo menos faltar ao respeito pelas pessoas do Benfica. 

Se alguém faltou ao respeito a si próprio, às pessoas do Benfica presentes no estádio, aos jogadores que, em campo e como o resultado indica, lutaram até ao último minuto pelo melhor resultado, ao Futebol Clube Tirsense - não Diamantino, o Benfica-Tirsense não foi um jogo a brincar - e, sobretudo, ao SL Benfica - seguramente que não foram os jogadores e muito menos Bruno Lage.